Há quase dois meses, ainda antes de ser decretado pela primeira vez o estado de emergência, o Observador decidiu tornar de leitura livre todos os textos relacionados com a crise do coronavírus. Fizemo-lo para corresponder ao grau de ansiedade que a epidemia estava a gerar, de forma a que a melhor informação pudesse chegar ao maior número, sem a barreira que limita o acesso aos artigos Premium apenas aos assinantes.

Na altura entendemos que a gravidade do momento justificava que todos pudessem aceder a uma informação diferenciada e qualificada pois estava em causa a saúde pública e eram inúmeros os que procuravam esclarecimento sobre este novo vírus, sobre o seu perigo e sobre o que deveriam fazer.

Explicámos na altura que a imprensa cumpre um serviço público, mesmo quando é privada – mais: que é sua obrigação cumprir esse serviço publico – e que por isso não só esperávamos que os nossos assinantes compreendessem que não estávamos a violar o contrato que tínhamos com eles, como que os que nos leem compreendessem que a melhor forma de garantir uma imprensa livre é serem os seus leitores a suportá-la tornando-se assinantes.

Neste período o Observador (e a Rádio Observador) reorganizou completamente a sua redação para mesmo em condições de confinamento social podermos oferecer mais informação, de forma mais rápida, mais completa e mais fiável. Como publisher, e sem falsas modéstias, orgulho-me do que conseguimos oferecer a todos os leitores e ouvintes. Orgulho-me de pertencer a esta equipa, jovem, esforçada, dedicada, que mostrou estar à altura da nossa missão neste período exigente.

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Tal como me orgulho da forma como os leitores corresponderam. Em Março duplicámos a audiência, e em Abril mantivemos, no site, números também excepcionais. Na Rádio Observador continuámos mesmo a crescer em Abril, com mais de 2,1 milhões de downloads de podcasts.

Ao mesmo tempo os nossos leitores aderiram à nossa mensagem de que juntos somos mais fortes, conscientes de que agora mais do que nunca, sobretudo porque agora nos faltam outras receitas, é deles, da sua contribuição como assinantes que dependemos. A crise económica castigou especialmente os órgãos de informação, porque lhes retirou grande parte das receitas de publicidade numa altura em que a missão do jornalismo é ainda mais importante e não podemos baixar a guarda. Por isso, num período em que a maior parte dos artigos do Observador era de leitura livre, foram milhares os leitores que sentiram que era altura de eles também serem assinantes. De eles também fazerem parte da nossa comunidade, num gesto de cidadania.

E nós, no Observador, sentimos ao mesmo tempo que não podíamos deixar de agradecer aos que mais se tinham esforçado, os que estiveram e estão na linha da frente, os trabalhadores da saúde. Por isso decidimos oferecer a todos uma assinatura por seis meses, uma oferta válida até 10 de Maio. Foi o nosso “Obrigado!”

Agora que o estado de emergência terminou é o momento de repor, a partir de 4 de Maio, as condições normais de leitura do Observador, em que reservamos o acesso aos artigos exclusivos, mais profundos e mais desenvolvidos – os artigos Premium – aos nossos assinantes. Dois meses depois o nosso dever de fazer chegar a informação a todos num tempo de grande inquietação e confusão está cumprido. Continuaremos atentos à contra-informação e à desinformação, e por isso manteremos de acesso livre os nossos fact-checks. Na cobertura da pandemia, se considerarmos que algum artigo Premium é importante para o esclarecimento público, ponderaremos torná-lo de acesso livre.

Mas não nos enganamos nem iludimos o facto de que numa sociedade livre o jornalismo tem de ser pago e suportado por leitores que são também cidadãos.

Todos sabemos que estamos apenas no início de uma longa luta de que só travámos ainda a primeira batalha. É uma luta de que todos queremos sair vivos – e todos não é só cada um de nós. É também a nossa forma de vida, desde as empresas que criam riqueza às instituições que sustentam a nossa democracia. Nunca o faremos sem jornalismo, e se nós estamos na segunda linha da frente, a nossa retaguarda segura é quem nos lê e apoia, sendo assinante.