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Steen Jakobsen é "chief investment officer" do banco dinamarquês Saxo Bank.
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Steen Jakobsen é "chief investment officer" do banco dinamarquês Saxo Bank.

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

Steen Jakobsen é "chief investment officer" do banco dinamarquês Saxo Bank.

ANA MARTINGO/OBSERVADOR

"Em Portugal, tudo parece acontecer em câmara lenta", diz economista dinamarquês Steen Jakobsen

Economista dinamarquês Steen Jakobsen suspeita que haja "algum interesse político escondido" em "abrandar" o progresso no País. E alerta que a obsessão mundial com a "economia verde" pode acabar mal.

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Portugal tem estado sob a proteção de um “tio rico” – chamado Banco Central Europeu – que assegura que os custos da dívida do Estado continuam baixos e que existe alguma margem para suportar a despesa pública. Mas, alerta o economista dinamarquês Steen Jakobsen, esse é um cenário que irá durar menos do que se pensa – porque a pressão da inflação será tudo menos “transitória” e irá forçar os bancos centrais a diminuir os estímulos monetários.

Em entrevista ao Observador, o chief investment officer do influente Saxo Bank avisa que, a menos que queira ser “eternamente o primo pobre”, com um PIB per capita de 77% da média europeia, o país precisa de ir além dos “slogans políticos” e tomar medidas concretas para transformar a economia. E nem é preciso inventar nada: “Por exemplo, se querem aplicar um conjunto de medidas que comprovadamente fizeram dos países escandinavos aquilo que são hoje, basta roubar as ideias. Ninguém leva a mal”.

“Em Portugal, tudo parece acontecer em câmara lenta” e, à falta de uma boa explicação para que assim continue a ser, o economista diz “suspeitar que possa existir algum interesse político, escondido, interessado em ‘abrandar’ as coisas”. E, quando se fala na chamada bazuca europeia, Steen Jakobsen lembra que, “se um país quer ser socialmente mais justo, mais inclusivo, mais ecológico, então tem de começar por aumentar o nível de produtividade na economia. Só daí vêm os despojos que depois podem ser distribuídos”.

“É um erro olhar para isto como um monte de capital que se aloca aqui e ali. Se não forem investimentos que aumentem a produtividade a prazo, não ajudará nada”, avisa.

“Portugal tende a só se mexer quando é encostado à parede”

Numa entrevista no final de 2018, disse ao Observador que “Portugal devia ter vergonha de não ser um país de topo mundial”. Entretanto, o mundo foi assolado por uma violenta crise pandémica. Ao regressar ao país, sente que alguma coisa está a mudar?
Eu adoro Portugal, adoro as pessoas que conheço cá, a gastronomia – e sempre que critico o país é porque continuo a achar, sinceramente, que podiam estar muito, muito melhor do que estão. A realidade é que Portugal continua a ter pouco mais de 70% do PIB per capita em relação à média europeia [77%, em 2020]. Com uma História tão rica, boa capacidade de engenharia, sistema de saúde relativamente bom… Mas continuam a insistir em fazer as coisas em câmara lenta.

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O que quer dizer com isso?
Quero dizer que Portugal tende a só se mexer quando é encostado à parede. Espera-se pelo colapso e depois, aí sim, avança-se para a solução. No caminho até ao colapso, parece que tudo tem de ser feito com muito cuidado, com medidas avulsas, porque há sempre um receio de incomodar alguém se se fizer alguma coisa mais audaz. Por exemplo: foi preciso uma crise enorme para se perceber que a primeira prioridade do país teria de ser alargar de forma drástica os incentivos à inovação, às startups, criar condições para essas empresas nascerem em Portugal.

E atrair estrangeiras…
Claro que sim, para ser um hub na Europa, como este país tem de ser. Depois as crises melhoram, ciclicamente, mas há que lembrar que é preciso continuar a investir nessas áreas, não pode ser uma coisa passageira. Se há um orçamento fixo anual para a Defesa, porque é que não se define 1% do orçamento anual público para o investimento nos setores inovadores? Há tanta coisa que se pode fazer… Não se pode abrandar, desta vez Portugal precisa de levar as coisas em diante, para que elas deem frutos.

“Desta vez”? A sua perceção é de que o país “não leva as coisas em diante”?
Portugal atravessou tantas crises sucessivas, desde os anos 70, após a queda do regime [Estado Novo]. Durante muito tempo, a desculpa foi essa – que a economia partia de uma situação difícil, após a ditadura. Mas chega um momento em que isso deixa de servir como desculpa, porque o país já tem ótimas condições de base para ter resultados muito melhores do que tem – designadamente nas infraestruturas, graças aos fundos recebidos das entidades europeias, ao longo das décadas. Este é um país que, ao longo da sua História, teve acesso a enormes mercados, tem uma das línguas mais faladas em todo o mundo. Teria obrigação de estar muito melhor.

A chamada “bazuca” europeia pode ser uma oportunidade para dar a volta?
Pelo que ouvi, o lema será promover uma recuperação mais “verde”, mais inclusiva… Mas isso são apenas slogans. Falta a ação – e a ação é tomar medidas concretas para transformar a economia, e já falámos de algumas. E nem precisam de inventar nada, nenhum país patenteou as medidas que tomou para ter mais sucesso. Por exemplo, se querem aplicar um conjunto de medidas que comprovadamente fizeram dos países escandinavos aquilo que são hoje, basta “roubar” a ideia. Ninguém leva a mal. Do que me apercebo, apenas vejo um esforço pouco coerente, medidas avulso. O que me leva a suspeitar que existe algum interesse político escondido, interessado em “abrandar” as coisas.

Bazuca? "Do que me apercebo, apenas vejo um esforço pouco coerente, medidas avulso. O que me leva a suspeitar que existe algum interesse político escondido, interessado em 'abrandar' as coisas."

Juros baixos: “Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas, o BCE”

Para já, porém, os mercados financeiros parecem estar tranquilos. Ou será que é mais correto dizer que estão anestesiados pela política monetária dos bancos centrais?
Em Portugal, toda a estrutura de taxas de juro está dependente da graça do BCE. E se, como eu acredito que irá acontecer, a inflação se tornar um problema cada vez maior, então as taxas de juro terão de subir mais rapidamente do que se pensa. E, aí, aquilo que o Estado tem de pagar em juros da dívida anualmente vai aumentar, deixando menos espaço para o resto. Eu acredito que, antes do final do ano, a Alemanha vai voltar a ter taxas de juro positivas, e isso terá um efeito de arrastamento para países como Portugal – e uma subida de alguns pontos-base pode ter um efeito enorme nos custos de financiamento.

BCE. Lagarde garante que “a senhora não está a retirar estímulos” quando reduz as compras mensais de dívida

Recentemente a agência de rating Moody’s subiu a notação da República Portuguesa…
O que é que isso importa? Cada vez que há um rating prestes a sair, há sempre algum jornalista português que me contacta para falar sobre aquilo que pode ser decidido pela agência. E eu pergunto: “Qual é a relevância disso nesta altura? Nenhuma. A única razão pela qual vocês têm taxas de juro baixas é porque têm uma garantia implícita, por parte do BCE, na vossa dívida”. Isso significa que neste momento Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas. Mas chegará um momento em que, a menos que Portugal queira ser eternamente o primo pobre, será preciso mostrar que se consegue ser produtivo de forma duradoura. A prazo, não é possível continuar só a queixar-se da vida e a falar de como o Benfica jogou ontem à noite.

"Portugal tem um tio rico que irá sempre pagar as suas dívidas, o BCE", diz o 'chief investment officer' do Saxo Bank. FOTO: Hugo Amaral/OBSERVADOR

HUGO AMARAL/OBSERVADOR

Em que outras áreas teria de haver mudanças em Portugal, na sua leitura?
Penso que era Jim Rogers, um conhecido investidor de hedge funds, que costumava dizer que um extraterrestre que chegue à Terra e queira perceber quais são os países mais ricos, basta-lhe olhar para a bolsa de valores de cada país. E uma coisa que me choca é que em Portugal, quando se olha para a bolsa de valores, vê-se uma empresa elétrica, uma cadeia de retalho… Pouco mais. No total, é uma bolsa onde as maiores empresas valem uns 20 mil milhões de euros – isto é dinheiro do Rato Mickey, é uma piada… Na Dinamarca temos 5 milhões de pessoas, metade de Portugal, e temos a maior empresa de sistemas eólicos, algumas das maiores farmacêuticas do mundo, temos a Lego, que faz os brinquedos mais populares do mundo… Tem de haver uma explicação para Portugal não ter nada disso – e a dimensão do país não pode ser uma explicação.

Mas, voltando à “bazuca”, está otimista de que será bem usada?
Não sei. Sei apenas que o país tem obrigatoriamente de decidir ser produtivo – tem essa obrigação. Todo e qualquer investimento que seja feito em Portugal tem de começar com uma questão: “Isto vai ou não ser produtivo?”. Esse dinheiro tem de ser aplicado de forma inteligente, fixando valores para as startups e para a inovação, fixando e aumentando os valores gastos na educação a cada ano, para melhorar as qualificações dos cidadãos. O resto, depois, vem por acréscimo. Se um país quer ser socialmente mais justo, mais inclusivo, mais ecológico, então tem de começar por aumentar o nível de produtividade na economia. Só daí vêm os despojos que depois podem ser distribuídos. É um erro olhar para isto como um monte de capital que se aloca aqui e ali. Se não forem investimentos que aumentem a produtividade a prazo, não ajudará nada.

Bazuca da UE “pode piorar as distorções” que há muito tolhem a economia portuguesa, avisa João Moreira Rato

Há um grande enfoque na habitação…
Certo, desde que seja numa perspetiva de incentivar construtores privados a fazerem os seus projetos com cláusulas que garantam o equilíbrio. Porque é que não fazem como na Dinamarca, onde cada vez que um empreiteiro faz um x número de casas para preços mais elevados tem, ao mesmo tempo, de se comprometer a construir y casas de preços acessíveis? Porque é que não fazem depender a autorização de construção desse compromisso? E porque é que o Estado não cria, depois, programas de incentivo aos jovens em que lhes garante os juros dos créditos à habitação?

ESG: “O mundo físico é demasiado pequeno para as aspirações dos políticos”

Outra prioridade é a promoção de uma economia mais “verde” – a preocupação com o meio-ambiente [environment] que é o E da sigla ESG, que agora está em todo o lado. Escreveu recentemente que o ESG é o maior projeto político global das últimas gerações e que está “condenado a falhar”. Porquê?
Compare-se com a a moeda única, o euro, que era constantemente atacado até ao dia em que um presidente do BCE disse que faria o que fosse necessário para o preservar. Isso mostrou aos mercados, que antes duvidavam disso, que era muito grande o capital político investido na continuidade da união monetária. Com o ESG é a mesma coisa – tornou-se uma prioridade política de uma dimensão tão gigante que os líderes políticos nunca vão olhar a meios para cumprir estas metas, sem questionar se aquilo que estão a fazer é totalmente correto. E há outro problema: é que o mundo físico é demasiado pequeno para as aspirações dos políticos.

Como assim?
Porque as prioridades políticas estão a chocar com o mundo real e a criar desequilíbrios. Basta ver os preços da eletricidade em máximos históricos. Os preços das casas estão em máximos históricos, porque não há oferta suficiente e escasseia a mão-de-obra e os materiais para construir mais. As coisas têm limites físicos e penso que estamos a chegar a esses limites – daí as pressões relacionadas com a inflação. Esta questão do ESG tornou-se o novo euro: também é demasiado importante para que os políticos permitam que ele falhe. Não importa se está totalmente correto, o que importa é que o capital político e o investimento orçamental vão caminhar cada vez mais para estes temas.

O que significa a sigla ESG?

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ESG é uma sigla que significa Environment (ambiente), Social (questões de justiça social) e Governance (práticas empresariais sãs). Na sua base, o conceito de ESG aplica-se sobretudo ao meio empresarial mas, nos últimos anos, foi muito além disso e também as políticas públicas são frequentemente analisadas à luz deste conceito. Basicamente, está em causa a avaliação que é feita da forma como uma empresa atua, seja qual for o seu setor, e que é demonstrativa de uma preocupação acerca do seu impacto no meio-ambiente, nas questões de justiça social e igualdade de oportunidades, e que tem, no geral, práticas sãs de gestão empresarial e do impacto sobre a sociedade.

Referiu as pressões inflacionistas. São “transitórias”, como dizem os bancos centrais como a Fed e o BCE?
Claro que não. Quem diz isso é porque lhe convém, porque dá jeito para a narrativa que quer fazer valer. Como é que pode não haver inflação, sem que o mundo físico cresça a um ritmo minimamente comparável [ao ritmo a que cresceu o fornecimento de dinheiro, devido aos estímulos]? Não há excesso de capacidade no setor mineiro, portanto não há forma de os preços não subirem. Antes de 2023 ou 2024 não vai haver normalização no segmento dos chips – e pode ser ainda pior se Taiwan se envolver em questões com a China. E nos preços da energia passa-se o mesmo: como houve quebra de investimento os preços só tendem a subir ainda mais.

Inflação está a empurrar os juros para os níveis mais elevados em anos. A Euribor pode ir atrás?

É uma tendência impossível de contrariar?
É tudo a subir ao mesmo tempo – até os custos laborais sobem, porque nos EUA, sobretudo, muitas pessoas não querem trabalhar pois recebem mais ficando em casa do que indo trabalhar. Se isso não é um problema, não sei o que é um problema. Repare, ainda nem começámos a sério nesta caminhada e já está tudo em máximos históricos. Os preços dos metais estão em recordes, os custos do transporte não param de subir… O que está a acontecer é consequência do facto de os governos em todo o mundo terem intervindo diretamente em algumas partes da economia, sobretudo na gestão da crise da Covid-19. Esta foi uma crise que levou os governos, apoiados pelos bancos centrais, a transferir dinheiro diretamente para as empresas e para os consumidores – os layoffs, os apoios a fundo perdido às empresas…

Inflação apenas "transitória"? "Como é que pode não haver inflação, sem que o mundo físico cresça a um ritmo minimamente comparável ao ritmo a que cresceu o fornecimento de dinheiro? Não há forma de os preços não subirem".

Nunca tinha sido feito, desta forma, com esta escala?
Nunca. As últimas crises que tivemos foram financeiras, embora pudessem ter uma componente de crise imobiliária. Desta vez, devido às implicações práticas de fechar as economias, tornou-se necessário compensar as pessoas por não poderem ter as suas atividades normais. Além de superar a crise pandémica, os governos estão, ao mesmo, a tentar resolver três desafios de escala geracional: a desigualdade – que é um grande problema em Portugal –, a transformação “verde” e a necessidade de construir infraestruturas melhores. Cada um destes desafios, por si só, teria sido um desafio gigante para alguém superar numa ou duas décadas. Estamos a enfrentar os três ao mesmo tempo. Os planos de recuperação e resiliência vão todos no mesmo sentido: grandes investimentos em combate às alterações climáticas e às desigualdades sociais. Nos EUA também está a fazer-se o mesmo.

Além das questões climáticas e das questões sociais, o E e o S. O que pensa acerca do G dessa sigla, as práticas sãs na administração das empresas?
As pessoas tendem a achar que esse último é o menos importante, eu acho que é o mais importante de todos – veja o Facebook, que todos os dias viola todos os tipos de princípios de gestão empresarial sã. Sabem que o Instagram faz mal às crianças e jovens e não fazem nada quanto a isso. Acredito que um dia haverá um estigma tão grande associado a alguém que usa o Facebook como vai haver em relação a quem conduzir um automóvel movido a combustíveis de origem fóssil.

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Mas porque é que tudo isto surgiu agora, o ESG?
Porque as evidências da urgência climática tornaram-se mais óbvias. Mas parte da resposta a essa pergunta também está relacionada com os fatores demográficos, a idade dos eleitores – veja que os Verdes na Alemanha começaram por ser um partido de protesto, agora vão ser uma força decisiva. O eleitorado é cada vez mais composto por pessoas que cresceram a ouvir o seu governo a dizer que o país está em crise – Portugal é um excelente exemplo disso – e isso está a fazer com que se mudem as prioridades.

“Juros baixos são maus para os jovens que não têm pais ricos”

É uma questão de justiça inter-geracional?
O grande fosso que temos nas nossas sociedades não é entre ricos e pobres, é entre as novas gerações e a minha geração, os baby boomers. Porque hoje é praticamente impossível para alguém que entre no seu primeiro emprego comprar uma casa, minimamente perto das cidades. E mesmo que até tenham um salário decente, mesmo assim não conseguem um empréstimo para uma casa porque não têm entrada para dar ao banco. Depois ouvimos dizer que os jovens gostam é de partilhar tudo, que não precisam de carros e casas porque partilham tudo. Não sei se é bem assim… Eu penso que ninguém quer partilhar nada se não precisar de o fazer. Se toda a gente pudesse facilmente ter a sua casa, o seu próprio carro, quase todos iriam querer isso.

Além de superar a crise pandémica, os governos estão, ao mesmo, a tentar resolver três desafios de escala geracional: a desigualdade – que é um grande problema em Portugal –, a transformação "verde" e a necessidade de construir infraestruturas melhores. Cada um destes desafios, por si só, teria sido um desafio gigante para alguém superar numa ou duas décadas. Estamos a enfrentar os três ao mesmo tempo.

“Os veículos elétricos que temos hoje não são a solução”

Há pouco dizia que esta transição, designadamente a climática, poderia não estar a ser bem feita mas que isso não seria importante porque os líderes políticos iam avançar na mesma. Como assim, não estar a ser bem feita?
Estamos a ir demasiado rápido e há muitas evidências de que estamos a fazê-lo de forma errada, em muitos aspetos. Os veículos elétricos que temos hoje não são a solução – não há infraestrutura para este sistema de baterias. As casas, os apartamentos, não estão construídos a pensar nisso… E a maioria desses híbridos apenas vão buscar uma pequena percentagem do consumo à energia elétrica, a maior parte é a combustão normal. Só são vendidos porque o Estado dá um incentivo fiscal, embora na realidade sejam o pior de dois mundos – ficam mais pesados por terem os dois sistemas mas praticamente só usam a combustão normal. Eu não sou contra o ESG, só digo que é preciso ter noção de que “lá fora” há um mundo real e temos de ponderar bem o que fazemos, como fazemos e as tecnologias em que apostamos.

“Portugal devia ter vergonha de não ser um país de topo mundial”, diz economista dinamarquês Steen Jakobsen

O governo português tem feito uma aposta no hidrogénio.
Talvez a resposta esteja no hidrogénio. Talvez seja a fusão nuclear, que também está a ter resultados muito promissores. Mas é preciso investir de forma diversificada, não podemos sentar-nos num trono de reis a dizer que é isto ou aquilo que vai funcionar. Porque temos de garantir que as coisas podem funcionar mesmo quando não as subsidiamos.

O que é a teoria do "efeito cobra"?

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É uma teoria económica estudada pelas ciências económicas que estuda como, por vezes, são tomadas medidas com uma (boa) intenção mas, depois, o efeito prático dos incentivos criados acaba por ser o inverso. Isto é, piora-se o problema em vez de o solucionar.

A designação, cunhada pelo economia Horst Siebert, foi inspirada no que terá acontecido na Índia enquanto ainda era um país controlado pelo Império Britânico. O poder colonial estava preocupado com a proliferação de cobras venenosas em cidades como Deli, então, decidiu oferecer um prémio por cada cobra que os cidadãos capturassem e entregassem (morta) às autoridades.

Inicialmente, o programa teve sucesso. Mas, em pouco tempo, as pessoas começaram a fazer criação de cobras venenosas, nas suas propriedades, para depois as matar e receber o prémio.

Assim que as autoridades se aperceberam do que estava a acontecer, acabaram com o programa e aqueles que estavam a criá-las decidiram lançá-las para a natureza, já que agora não tinham qualquer valor para eles. Isso fez com que a Índia ficasse com um problema de cobras venenosas ainda pior do que tinha inicialmente.

Corre-se um risco de criar um “efeito cobra”, como estuda a teoria económica?
O perigo é esse. Esquecemo-nos de que, quando estamos a descarbonizar a economia, estamos a metalizá-la, porque aumentamos a necessidade de todo o tipo de metais, baterias, cabos, etc. E as energias renováveis que temos hoje não são a solução – pelo que percebi, estas turbinas eólicas que estão em todo o lado… quando o vento sopra muito forte eles têm de as desligar porque a rede não aguenta. Mas as pessoas que têm o poder, os políticos, dizem que essas são as soluções. Criámos um sistema em que estamos a canalizar quantidades cada vez maiores de dinheiro para uma pequena parte da economia – isso cria desequilíbrios. E, tendo em conta o capital político ali investido, o problema é que à medida que as dificuldades surgirem a reação dos políticos vai ser injetar ainda mais dinheiro.

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