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Os primeiros desafios políticos de 2022. O ano em que tudo pode mudar

Costa parece bloqueado. Rio aposta a última vida política. Catarina e Jerónimo entram na roda do poder? E Ventura? CDS luta para sobreviver, a IL para existir para lá da ideologia. PAN ainda tem gás?

Faltam quatro minutos para as duas da manhã e Rui Rio já tem dificuldades em controlar a satisfação com os resultados que vão chegando de todo o país. A noite começou com as sondagens surpreendentes em Lisboa e foi ganhando mais cor com as conquistas de Coimbra, Funchal e Barcelos. Está a falar aos jornalistas, num palanque disposto na sede nacional do PSD. De repente, o grito que todos esperavam. “Ganhámos! Ganhámos mesmo!”. Contra todas as expectativas, até da própria direção social-democrata, Fernando Medina tinha sido derrotado.

A vitória de Carlos Moedas em Lisboa foi o bater de asas que virou a política portuguesa do avesso. Aconteça o que acontecer a 30 de janeiro, tudo o que parecia improvável há três meses tornou-se realidade. Rui Rio, dado como politicamente defunto, atirou Paulo Rangel para a prateleira dos vencidos e tornou-se uma ameaça real à hegemonia socialista; e António Costa, que, à luz de todos os prognósticos que iam sendo feitos, deveria estar por esta altura a gozar a euforia da libertação e os milhares de milhões da Europa, está na verdade agarrado à calculadora, entre apelos envergonhados à maioria absoluta, garantias de que sai se perder as eleições e certezas de que não renovará a geringonça, nem negociará com o PSD.

É em torno destes dois planetas – o de António Costa e o de Rui Rio – que orbitam todos os restantes protagonistas, também eles atores ativos desta transformação. Na ressaca das autárquicas, Catarina Martins e Jerónimo de Sousa deixaram cair António Costa e lutam agora por uma revalidação nas urnas que lhes sirva para agarrar o PS à esquerda. André Ventura tenta o mesmo à direita, apesar da resistência de Rio, que dispensou o satélite chamado CDS e obrigou Francisco Rodrigues dos Santos a lutar sozinho pela sobrevivência.

João Cotrim Figueiredo corre em pista própria, disposto a provar que a Iniciativa Liberal não é um epifenómeno. E Inês Sousa Real, que em plena crise orçamental forçou a narrativa do partido construtor de pontes por oposição à irresponsabilidade dos demais, vai tentar fazer valer o seu estatuto de abre-latas à disposição de Costa e Rio em caso de bloqueio parlamentar.

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A tudo isto vai assistir Marcelo Rebelo de Sousa, cujo grande desígnio foi sempre o de evitar crises políticas. Não conseguiu — os críticos disseram e dirão que até a precipitou — e arrisca-se agora a enfrentar mini-ciclos políticos, sem um rumo evidente e com a particularidade de poder ficar na história como o único Presidente da República a dissolver a Assembleia sem que daí resultasse uma clarificação política. Os primeiros desafios do próximo ano político são muitos e difíceis de resolver.

(Rui Oliveira/Observador)

António Costa. Sair do labirinto

A geringonça morreu. O PS não fará acordos de governação com Rui Rio. O objetivo é a maioria absoluta. A derrota significa a demissão. António Costa vai a votos com estes quatro mandamentos e, olhando para o par de entrevistas mais recentes que deu, não parece disposto a fugir ao guião. O que levanta um problema evidente: dinamitando pontes à esquerda e à direita, o que fará o socialista se vencer as legislativas sem maioria absoluta?

Afinal, olhando para a tendência registada pelas sondagens, parece ser esse o cenário mais provável. A um mês das legislativas, só uma campanha de grande dramatização e de apelo ao voto útil parece ser capaz de fazer disparar os socialistas nas urnas. Mas o agravar da crise sanitária e a dinâmica política e mediática criada pelas autárquicas — que explodiu com a vitória surpreendente de Rio contra Rangel — parecem estar a empurrar António Costa em sentido contrário.

Ficando aquém da maioria, e riscando Rio, restará ao socialista que o resultado dos seus antigos parceiros de ‘geringonça’ seja de tal forma frágil que os obrigue a moderar exigências e aceitar uma nova aliança a um preço bem mais modesto. E reconstruir a partir daí um projeto que foi dado como esgotado pelos próprios protagonistas, incluindo por António Costa. Com que fim? A que custo? Com que horizonte? Em caso de vitória, são perguntas que se colocarão a 31 de janeiro.

Se o falhar a meta da maioria absoluta será sempre uma frustração difícil de resolver, tudo o que seja um resultado inferior ao de 2019 será interpretado como uma derrota pessoal de Costa e uma vitória de Catarina Martins e/ou Jerónimo de Sousa, bem como da ala mais à esquerda do PS, que já vai discutindo sem grande pudor que talvez seja preciso mudar de protagonista para ultrapassar bloqueios.

Ciente de todos os cálculos políticos que o rodeiam, Costa também sabe que o poder é o melhor dos cimentos e já deu provas de ser capaz de se reinventar. Ao ponto de estar a reorganizar o tabuleiro socialista: a inclusão de Fernando Medina na lista de deputados e a sua mais do que provável promoção a ministro é a prova provada de que o líder socialista não desistiu de tentar condicionar o futuro do partido.

Porto, 22/10/2021 - cerimónia de recandidatura de Rui Rio à liderança do PSD (Rui Oliveira/Observador)

(Rui Oliveira/Observador)

Rui Rio. Cumprir a profecia

A estratégia estava traçada desde o início e era partilhada por todos os que privaram com o líder social-democrata desde o minuto zero do seu mandato. Aguentar as europeias, sobreviver às primeiras legislativas, fazer das autárquicas o ponto de viragem, esperar eleições antecipadas e então derrotar os socialistas. Rui Rio queria um remake do “pântano” de Guterres e o remake chegou, com todas as devidas distâncias.

O presidente do PSD chega a estas eleições internas em condições que nunca teve: conquistou o inimaginável nas autárquicas, varreu a oposição interna e criou uma dinâmica que as sondagens parecem acompanhar e alimentar ao ponto de ser razoável colocar a hipótese real de ganhar as legislativas. Mas ganhar eleições deixou de ser sinónimo de governar. E esse é o maior quebra-cabeças do líder social-democrata.

Ao contrário de Costa, Rio não perde um segundo a sonhar com maioria absoluta. O facto de ter riscado André Ventura do leque de soluções faz com um maioria construída à direita seja difícil de antecipar. Por isso, se vencer as eleições, o presidente do PSD já fez saber que conta com a boa-fé dos socialistas para governar pelo menos dois anos (diz que o desejável são quatro, com avaliação a meio). E começar a construir a partir daí um projeto maioritário, idêntico ao ciclo de Cavaco Silva.

Existe um obstáculo óbvio nessa estratégia: acreditar que o PS vai permitir que Rio governe em minoria. O líder social-democrata acredita que sim, que os socialistas vão precisar de tempo para se organizarem no pós-Costa e que nessa janela temporal será possível fechar um acordo de cavalheiros. A ver.

O cenário alternativo existe na cabeça de Rio e o líder social-democrata já deu sinais públicos e privados de que quer continuar à frente do partido mesmo perdendo as legislativas. Resta saber se o partido o permitirá. Ou melhor, se está em condições de o impedir: Rangel está fora, Moedas está a conhecer os cantos à casa em Lisboa, Montenegro ainda lambe as feridas da última derrota e o partido não parece estar esfuziante com a hipótese de um regresso, Pinto Luz (ainda) não tem força política para chegar à liderança… Nesta altura do campeonato, não há quadros óbvios em condições de derrotar Rio. Mas a realidade é dinâmica e uma nova derrota nas legislativas pode voltar a virar do avesso o PSD.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Catarina Martins. Impedir a repetição da história

Em 2011, quando o Bloco se juntou à direita para chumbar o PEC IV de José Sócrates, o destino foi particularmente madrasto — ficou sem o líder-fundador, sem metade da bancada parlamentar e demorou três anos até encontrar alguma estabilidade interna. Dez anos depois, as circunstâncias, as motivações e os protagonistas são diferentes, mas os resultados práticos podem ser os mesmos.

Se Catarina Martins for incapaz de contrariar os efeitos do apelo ao voto útil à esquerda, esvazia-se perante um PS maioritário; se Rio vencer, regressa à travessia do deserto da oposição com o carimbo de ter contribuído para o regresso da direita ao poder; num e noutro caso, perde a influência de que gozou nos últimos seis anos.

A equação é, por isso, complexa. António Costa deve ganhar as eleições mas sem força para ser autossuficiente e o Bloco tem de aguentar o golpe previsível sem perder força negocial. Ora, a tendência refletida pelas sondagens é exatamente a oposta: mesmo com o PSD a aproximar-se, os socialistas estão estáveis e até podem sair reforçados nas urnas; o Bloco continua a cair a pique para valores historicamente baixos.

Contas feitas, o Bloco, que rejeitou os dois últimos Orçamentos do PS por entender que eram insuficientes, arrisca-se a sair das próximas legislativas com menos força para impor uma agenda, obrigado a aceitar condições menos vantajosas ou votado à irrelevância. Com uma agravante: o fim do ciclo ‘geringonça’ poderá ser também o fim de ciclo de Catarina Martins, até aqui líder quase incontestada no partido. Acontecendo uma disputa interna, as consequências são imprevisíveis.

O secretário-geral do Partido Comunista Português (PCP), Jerónimo de Sousa, intervém durante a Reunião Regional de Quadros, sobre "Os problemas económicos e sociais e as respostas necessárias" no âmbito da preparação do XXI Congresso do PCP, Pinhal Novo, 24 de outubro de 2020. RUI MINDERICO/LUSA

RUI MINDERICO/LUSA

Jerónimo de Sousa. Resolver o dilema

O PCP foi a última perna da ‘geringonça’ a partir. Contra todas as expectativas, mesmo quando Catarina Martins “desertou” (António Costa dixit), Jerónimo de Sousa não faltou à chamada e deu a mão aos socialistas. O resultado desastroso nas autárquicas — mais um a somar a uma série consecutiva de maus resultados do partido — terá precipitado a mudança de chip e o regresso às origens: a solução encontrada no Parlamento tornara-se mais tóxica do que vantajosa.

Os comunistas estão assim de volta ao ponto pré-2015: o PS é de novo um adversário e não um aliado estratégico. Publicamente, Jerónimo de Sousa e outros altos dirigentes comunistas vão garantido que a rutura não é irrevogável e o objetivo do partido não é voltar à trincheira da oposição para recuperar a influência das ruas e o quase monopólio da contestação sindical; mas não há evidências de que as exigências que os comunistas fizeram nestas negociações orçamentais — e que eram incomportáveis para o PS — se tenham moderado. A menos que algo de radicalmente diferente aconteça, o bloqueio manter-se-á.

Não é, ainda assim, uma situação linear. Estará o PCP verdadeiramente disposto a deixar cair o PS mesmo sob pena de devolver a direita ao poder para recuperar uma identidade que julga estar em risco? No partido, a resposta ao dilema parece estar encontrado: são os socialistas que têm de escolher se guinam à esquerda ou à direita, e se guinarem à direita tanto melhor porque fica demonstrada a verdadeira natureza de António Costa. Mas num partido que está assumidamente a perder eleitorado, a fatura a pagar por se excluir das soluções pode ser demasiado alta.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

Francisco Rodrigues dos Santos. Sobreviver

Não há margem para segundas leituras: o CDS luta pela sobrevivência nestas eleições legislativas. A tendência consolidada nas sondagens dos últimos meses dão o partido em risco de não eleger e não há sinais de que essa dinâmica se esteja a inverter. Antes pelo contrário.

Apesar de todos os esforços para contrariar o destino — as regionais açorianas, as presidenciais ao lado de Marcelo Rebelo de Sousa, o reforço nas autárquicas com e sem PSD –, o psicodrama em torno da disputa adiada com Nuno Melo e a rejeição de Rui Rio afundaram ainda mais Francisco Rodrigues dos Santos.

O líder do CDS sonhava com a reedição da Aliança Democrática para se manter vivo e politicamente relevante. Falhado o objetivo, a luta terá de ser travada a solo. Nos próximos 30 dias, Rodrigues dos Santos terá condições que nunca teve para se afirmar: uma campanha eleitoral, exposição mediática e debates que nunca conseguiu travar no Parlamento. O desafio é aproveitar esse período para tentar furar o apelo ao voto útil do PSD e travar a migração de votos para a Iniciativa Liberal e Chega.

No limite, estas eleições tenderão a responder à pergunta: com um concorrente conservador, um adversário liberal e sem capacidade para influenciar o senior partner, para que serve o CDS? Ou melhor: a quem serve e quem representa o CDS? A resposta a esta pergunta e o resultado conseguido nas urnas vão condicionar o futuro próximo de Rodrigues dos Santos, que apesar de ter conseguido adiar o duelo não afastou a ameaça de Nuno Melo. Resta saber se quando chegar a altura de medir forças ainda existirá um partido pelo qual lutar.

A candidata a porta-voz do Partido Pessoas-Animais-Natureza (PAN) Inês de Sousa Real, discursa durante o VIII Congresso do partido com o tema “Semear o Futuro” que decorre hoje e amanhã em Tomar, 05 de junho de 2021. PAULO CUNHA/LUSA

PAULO CUNHA/LUSA

Inês Sousa Real. Provar a utilidade

Em dois anos, o PAN, que tinha sido um dos grandes vencedores das legislativas de 2019, enfrentou uma mudança de liderança, duas cisões (no Parlamento Europeu e na Assembleia da República), duas polémicas cuja real dimensão dos danos ainda está por medir — os falsos recibos verdes e os negócios agrícolas de Inês Sousa Real –, esteve com Ana Gomes nas presidenciais sem que isso tenha sido particularmente notado e passou ao lado da história das autárquicas.

Em resumo, o PAN parte para estas legislativas em piores condições internas do que as que tinha em 2019 e com a imagem pública arranhada. Paradoxalmente, tem uma vantagem determinante: o facto de ter conseguido aumentar o número de deputados nas últimas eleições fez com que passasse a ser considerado um legítimo parceiro de negociação do PS e peça importante nas contas finais.

De resto, durante o chumbo do Orçamento, Inês Sousa Real foi a única que se pôs ao lado de António Costa, o que ajudou a consolidar o potencial para ser o braço verde do PS. Além disso, se conseguir fazer valer o discurso de que dialoga igualmente com Rui Rio e os partidos mais à direita, a líder do PAN pode dar aos eleitores que não se reveem na dicotomia esquerda-direita e que estão mais identificados com política pós-ideológica e de causas uma alternativa de voto sólida.

JOÃO PORFÍRIO/OBSERVADOR

André Ventura. Fintar a irrelevância

Nas segundas legislativas a que se apresenta a votos, o Chega arrisca-se a ser a terceira força mais votada. À luz de todos os critérios possíveis e imagináveis, seria sempre um resultado extraordinário para um partido com menos de três anos de vida. Tal como foram extraordinários os 500 mil votos conseguidos por André Ventura nas presidenciais ou a preponderância conseguida nos Açores. Mas a pergunta que se impõe é outra: de que servirá esse estatuto se Ventura continuar a ser visto como uma espécie de pária parlamentar?

Pouco mais de um ano depois de ter sido firmado o acordo que permitiu à direita afastar o PS e governar os Açores, assumido, em privado, como uma espécie de balão de ensaio para o que poderia acontecer no continente, Rui Rio e André Ventura nunca estiveram tão distantes. Depois de alguma ambiguidade, o líder do PSD já disse com todas as letras que não conta com Ventura nem que disso dependa a formação do seu governo; o presidente do Chega repete, em cada entrevista, que não dará a mão a Rio sem bilhete de entrada no governo e que deixará cair alegremente o PSD se for encostado à parede. No entanto, com o social-democrata apostado em governar com a ajuda do PS, o caminho torna-se mais estreito para o Chega. Rio tem uma saída ainda que difícil; Ventura não.

Ou seja, mesmo que cresça nestas legislativas — e é mais do que provável que cresça –, Ventura poderá ser confrontado com a difícil escolha entre encarnar um papel que rejeita (o de coadjuvante mudo de Rio) ou continuar a ser uma voz antissistema barulhenta, líder de um partido meramente de protesto.

As duas escolhas comportam riscos e vantagens: a primeira agradará ao eleitorado que quer afastar Costa e ter acesso ao poder, mas retirará parte do combustível de contestação que alimenta o partido; a segunda tenderá a consolidar a imagem do líder messiânico, disposto a tudo para fundar a IV República, mas frustrará a expectativa do eleitorado mais pragmático, que quer um partido capaz de influenciar políticas e não as redes sociais. A primeira pode desiludir os fiéis; a segunda pode deixar a máquina que vai suspirando pelo poder de pantanas.

Se António Costa vencer as legislativas, a discussão nem se coloca. Mas se Rio tiver a oportunidade de formar Governo, Ventura terá de tomar uma decisão que poderá moldar de forma determinante a identidade do partido e a sua posição enquanto protagonista político.

VI Convenção da Iniciativa Liberal - IL. O partido reúne em convenção no Centro de Congressos de Lisboa. Intervenção de João Cotrim de Figueiredo, presidente do partido. Lisboa, 12 de dezembro de 2021. TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

TOMÁS SILVA/OBSERVADOR

João Cotrim Figueiredo. Vingar a marca

Numas eleições que se antecipavam difíceis para a Iniciativa Liberal, teoricamente esmagada pela bipolarização PS-PSD e pela atração política e mediática do Chega, o partido liderado por João Cotrim Figueiredo parece estar, de acordo com a tendência verificada na sondagens, numa trajetória ascendente. O que abre um enorme mar de possibilidades.

Sem os anti-corpos de André Ventura, com uma marca identitária forte e uma agenda não disputada pelos outros partidos, a Iniciativa Liberal surge nestas legislativas com um potencial que não tinha há dois anos: à luz do que Rui Rio já disse sobre André Ventura e do que são as dificuldades reconhecidas do CDS, Cotrim Figueiredo pode vir a ser o parceiro preferencial do líder social-democrata em qualquer possível aliança de direita que venha a surgir.

A acontecer, serviria de teste de algodão à Iniciativa Liberal: teria o partido capacidade de impor parte de uma verdadeira agenda liberal, em particular a reforma fiscal que sempre defendeu sabendo que se falhasse perderia parte da imagem que criou? Num partido que se orgulha de propor uma visão ideológica radicalmente diferente da que tem sido seguida, a realpolitik poderá ditar um duro revés.

Dependendo do que acontecer a 30 de janeiro, João Cotrim Figueiredo poderá ter de tomar essa decisão, ciente de que, apesar da boa relação institucional que mantém com Rio, este PSD não é para liberais.

O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, discursa durante a sessão de encerramento do 32.º Congresso Nacional da Hotelaria e Turismo realizado sob o tema " O Turismo tem Futuro", Albufeira,12 de novembro de 2021. LUÍS FORRA/LUSA

LUÍS FORRA/LUSA

Marcelo Rebelo de Sousa. Encontrar soluções

Mais do que nunca, o Presidente da República terá como desafio maior ser o árbitro num campo particularmente hostil e onde a sua influência, já se viu, é limitada.

As pontes à esquerda caíram, entre as exigências de BE e PCP e os sonhos maioritários de Costa. As pontes à direita são feitas de papel, entre as reivindicações do Chega, a erosão do CDS e a emergência da IL, por um lado, e o desígnio centrista de Rio por outro. Os socialistas querem uma maioria absoluta difícil de atingir e parecem não ter outra resposta para a questão da governabilidade. Rui Rui rio acredita que pode ganhar e governar em minoria com o apoio do PS, o que seria a primeira vez na história da democracia.

A imprevisibilidade é muita, portanto. Marcelo Rebelo de Sousa não esconde aquela que entende ser a melhor solução para o futuro mais imediato do país: um entendimento entre PS e PSD que permita ao partido mais votado ter os Orçamentos aprovados, tal como ele próprio fez com a António Guterres, mesmo estando consciente de que o país pode entrar em mini-ciclos políticos de dois anos, com toda a instabilidade que isso traz.

Se Rio até admite tal cenário, Costa vai dizendo que nem pensar. À luz das sondagens, a vitória de Costa e a reconstrução de uma nova aliança à esquerda em cima dos escombros da ‘geringonça’ resolveria o problema de governabilidade, ainda que a cola política que uniria esses cacos seja difícil de antecipar. A descrença do Presidente da República nos méritos dessa solução ficou bem expressa no discurso em que a anunciou a dissolução do Parlamento.

“Não foi uma rejeição pontual, de circunstância, por desencontros menores. Foi de fundo, por divergências maiores. Em áreas sociais relevantes no Orçamento e para além dele, como a Segurança Social ou a legislação do trabalho. Divergências tão maiores que se tornaram inultrapassáveis“, disse Marcelo. Nada disso terá mudado em mês e meio.

Será possível forçar Costa a guinar ao centro? No início de novembro, na ressaca do chumbo orçamental, em entrevista RTP3, líder socialista escancarou a porta do diálogo ao PSD, como já antes tinha feito Carlos César, presidente do partido. Daí para cá, o clima de pré-campanha eleitoral e a aproximação de Rio nas sondagens terão contribuído para varrer a ideia do discurso socialista.

Em contrapartida, Rio já disse que negociará com o PS em caso de vitória ou derrota, mas não escondeu a sua maior reserva: se Costa perder as eleições, não será o atual secretário-geral socialista a mandar no Largo do Rato. No PS, existe uma ala que tem a tentação de repetir o filme de 2015 desde que exista maioria parlamentar de esquerda. O que fará Marcelo se algum dia for obrigado a calçar os sapatos que foram de Cavaco Silva?

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