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Enquanto dormia… o país passou a ter 191 concelhos na lista dos que têm mais riscos de Covid-19 (eram 121) e as regras do recolher obrigatório nos fins-de-semana apertaram consideravelmente. E tudo isto foi anunciado com um momento “read my lips” de António Costa. A expressão foi celebrizada por George Bush (o pai, não o que tinha o W entre os nomes) enquanto candidato presidencial, na convenção nacional republicana: “Read my lips, no new taxes” (que num sentido menos literal, quer dizer ‘Para que não fiquem dúvidas: não haverá novos impostos’). Estávamos em 1988, a “anos-luz” da pandemia de Covid-19. |
Ontem, António Costa fez lembrar este momento. Depois de dias de avanços e recuos acerca das regras do recolher obrigatório nos concelhos de risco; mais umas quantas exceções, depois explicações e, sobretudo, interpretações por parte dos cidadãos e das associações representativas do setor da restauração, hotelaria e distribuição, o primeiro-ministro fez um “mea culpa” na forma como inicialmente comunicou as novas medidas de restrição, mas clarificou logo em seguida. |
“Por causa da manifesta vontade de haver incumprimento, temos de adotar uma regra rígida: Às 13:00 tudo fechado”. “Espero que assim não haja espaço para qualquer tipo de equívocos”, disse António Costa. Ou seja, disse ainda, “é mesmo para as pessoas ficarem em casa”. Continua a haver exceções, mas muito menos do que inicialmente, como explicam a Rita Tavares e a Rita Dinis no especial que hoje faz a manchete do Observador. |
Todo o comércio e restauração vai fechar a partir das 13h00 e até às 8h00 da manhã nos dois dias do fim de semana nos 191 concelhos de risco. Compras de alimentos e bens essenciais apenas em mini-mercados ou mercearias, ou seja lojas com menos de 200 metros quadrados e porta para a rua. Também entram nas exceções (desde que cumpram as dimensões acima descritas) as lojas de artigos de higiene pessoal (ou da casa), produtos dietéticos e farmácias. Funerárias e bombas de gasolina também ficam abertas após as 13h00. Mas é só. |
A restauração vai sentir o maior impacto destas medidas, assumiu o primeiro-ministro, que aproveitou para anunciar um apoio de até 20% das perdas que as empresas do setor vão registar nos próximos dois fins de semana. Será um apoio a fundo perdido, mas o Governo não diz quanto é que prevê gastar, no total, com esta medida. É que o cálculo das perdas será feito comparando as receitas destes dias de recolher obrigatório com a média da faturação de todos os fins-de-semana desde o início do ano, o que apanha os meses fechados devido ao Estado de emergência. |
Quem também quis evitar equívocos (ou melhor, evitar perder tempo “a brincar aos governos” nos Açores) foi Marcelo Rebelo de Sousa. Como contam o Miguel Carrapatoso e o Rui Pedro Antunes, o Presidente da República precipitou um governo de direita no arquipélago, ao sinalizar junto do próprio PSD “que era preciso garantir já um entendimento à direita, que resultou numa coligação governamental PSD-CDS-PPM, com acordos de incidência parlamentar com Chega e Iniciativa Liberal”. Resultado: pela primeira vez na história eleitoral, foi dada posse ao líder da segunda força mais votada das eleições, sem que o partido mais votado tivesse antes essa possibilidade. |
E hoje está na Rádio Observador o secretário-geral do PCP, Jerónimo de Sousa. Se abriu esta newsletter logo que foi mandada, então ainda pode ouvir e ver em direto o líder do partido comunista a ser entrevistado pelo Miguel Pinheiro, pelo Miguel Santos Carrapatoso e pela Rita Penela. As medidas do governo para combater a pandemia, que Jerónimo considera excessivas, a sucessão no partido, a viabilização do Orçamento do Estado para 2021 e o crescimento da direita (sobretudo devido ao aumento de popularidade de partidos como o Chega ou o Iniciativa Liberal) deverão constar da ementa da conversa. |
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