Draghi puxa da bazuca e inunda a zona euro de crédito barato

Uma das melhores notícias do ano veio logo em janeiro. Três dias antes das eleições gregas que iriam colocar a Europa em alvoroço durante meses a fio, o Banco Central Europeu (BCE) fez aquilo que parecia impensável – um tabu – mas que se tornou inevitável: um programa de compra de dívida pública. Inevitável porque a inflação continuava (e continua ainda) muito longe do objetivo. E inevitável porque, discutivelmente, sem esse programa o ano de 2015 teria sido muito mais agitado nos mercados financeiros europeus.

A bazuca do BCE, agora reforçada, foi mais do que a compra de dívida pública (e pacotes de dívida privada). Foi também composta por outras medidas inéditas e controversas como a taxa negativa nos depósitos – basicamente cobrar aos bancos pelos depósitos no banco central. Estas duas medidas, em conjunto com a taxa de referência em 0,05% tiveram efeitos vastos para a economia europeia. Enumeramos alguns:

Em primeiro lugar, a atividade de crédito está a crescer em parte devido às taxas Euribor abaixo de zero nos principais prazos. Quem está a pagar empréstimos antigos também está a sentir a diferença no seu rendimento disponível. Pagam menos pelos créditos as famílias e as empresas mas, também, os Estados. Até Portugal, que à boleia destes estímulos monetários já se juntou ao grupo dos países que emitem dívida a juros negativos (no caso de Portugal, apenas em prazos curtos).

O principal efeito positivo para a economia europeia estará a vir, contudo, daquele que é o único objetivo não declarado de Mario Draghi: a desvalorização do euro, que dá um impulso às exportadoras europeias que competem no mercado internacional, onde o dólar é rei. Para a retoma europeia, esta está a ser a melhor notícia relacionada com a bazuca do BCE. É claro que o reverso da medalha dos juros baixos faz com que esta não seja uma boa notícia para todos. Se quem tem créditos sente o desafogo, quem poupa sente a secura dos juros dos depósitos que se arrasta há vários anos.

PUB • CONTINUE A LER A SEGUIR

Um (meio) acordo para o clima

No fim da tarde de 12 de dezembro, o presidente da COP21 (21ª Conferência das Partes), o ministro dos Negócios Estrangeiros francês, Laurent Fabius, foi aplaudido em plenário por ter conseguiu reunir o consenso de quase 200 países. Mas o Acordo de Paris deixa um gosto agridoce. A primeira versão do acordo – resultado de uma semana de trabalho dos negociadores -, divulgada no sábado anterior, foi transformada pelos ministros numa versão cada vez menos ambiciosa.

Uma das ambições “cadentes”, era um acordo vinculativodefendida até pelos Estados Unidos, os mesmos que não o podiam assinar. Outra das ambições era garantir o apoio financeiro aos países em desenvolvimento, mas não se conseguiu mais do que uma contribuição voluntária dos países ricos.

As principais conquistas passam pela referência a 1,5º C – como possível limite do aumento da temperatura até 2100 (em relação ao período pré-industrial) – e pela importância da preservação e recuperação das florestas. De facto, os incêndios florestais em Portugal fazem-nos ficar mal na fotografia do planeta.

Mas voltando à temperatura. Como vamos conseguir limitar a temperatura se não existem metas específicas – em percentagem ou em tempo – para a redução da emissão de gases com efeito de estufa? De um lado temos os países emergentes, como a China, que querem crescer à base do carvão, do outro os países que já estão a sofrer os efeitos das alterações climáticas, como os pequenos Estados-ilha.

O triunfo da diplomacia entre Irão e Estados Unidos

Em julho de 2015, um acordo histórico foi atingido entre o Irão e os Estados Unidos, Reino Unido, França, China e Rússia (os membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU, mais a Alemanha), de modo a travar o programa nuclear do país. Em troca, as sanções económicas foram levantadas ao Irão e o país voltará a ter acesso a mais de 100 mil milhões de dólares em bens que estavam congelados por todo o mundo.

O acordo é considerado um momento histórico para a diplomacia já que terminou com 12 anos de impasse em relação ao programa nuclear do Irão e foi o culminar de 17 dias de negociações intensas entre os vários países envolvidos no acordo. O Observador publicou um explicador sobre este acordo em que explica o acordo ponto por ponto.

Em troca do alívio das sanções que pesavam sobre o país desde 2006, o Irão garantiu a reconversão de alguns reatores para fins exclusivamente civis, a redução do material que pode levar à criação de uma bomba nuclear e inspeções periódicas, com acesso total, dos inspetores da Agência Internacional de Energia Atómica. A pesquisa irá continuar neste campo, mas apenas para fins energéticos, embora Israel mantenha alguma desconfiança face a estes progressos.

“Os Estados Unidos da América e a comunidade internacional alcançaram algo que décadas de animosidade não conseguiram – um acordo de longa data que irá impedir o Irão de obter armas nucleares”, disse então Obama. Desde julho, tanto a ONU como o Congresso norte-americano já aprovaram este acordo que entrará em vigor no início de 2016.

Web Summit sai de Dublin e chega a Lisboa para os próximos três anos

Foi a 23 de setembro que Lisboa gritou “Vitória” por ter destronado cidades como Dublin ou Amesterdão na corrida pela organização da Web Summit no próximo ano (e não só). Aquele que é considerado o maior evento de empreendedorismo, tecnologia e inovação da Europa vai decorrer na Feira Internacional de Lisboa (FIL) e no MEO Arena (ex-pavilhão Atlântico) em 2016, 2017 e 2018, com possibilidade de se estender por mais dois anos.

O anúncio chegou pela voz do fundador Paddy Cosgrave, que disse ao Observador que foi o otimismo dos empreendedores que convenceu a organização do evento a optar por Lisboa. “Aconteceu algo quase mágico: uma campanha surpreendente no Facebook e o facto de, cada vez que entrava no Twitter, ter pessoas a dizer ‘vem para Lisboa'”, afirmou, referindo-se ao movimento que a publicação digital Ship lançou para convencer a organização a escolher Lisboa para palco do evento.

As estimativas apontam para que em novembro do próximo ano, a Web Summit conte com cerca de 50 mil participantes. O investimento para o evento – financiado pelo Turismo de Lisboa, Turismo de Portugal e pela AICEP – é de 1,3 milhões de euros, para cobrir custos com logística e infraestruturas. Na edição de 2015, em Dublin, estiveram presentes 42.000 pessoas de 134 países.

O mundo abriu os olhos para Lisboa e Porto

Não era preciso o Porto ter aparecido nas páginas da revista Vogue norte-americana, captado pela lente de Mario Testino, para dizer: a Invicta está na moda. Em 2015, o famoso fotógrafo não foi o único a maravilhar-se com uma cidade portuguesa, e o Porto não foi o único a cair nas graças dos estrangeiros. Com quatro destinos nomeados para os World Travel Awards — Lisboa, Porto, Algarve e Madeira — Portugal acabou por arrecadar 14 prémios nos chamados Óscares do Turismo.

As distinções somam-se, vindas um pouco de todo o mundo. Dois meios prestigiados como o jornal The Guardian e a revista Esquire selecionaram o Porto como uma das cidades emergentes a descobrir. A TripAdvisor fez eco e colocou mesmo a Invicta como o terceiro melhor destino emergente do mundo e o primeiro da Europa, num ranking que mede o feedback dos viajantes a alojamentos, restaurantes e lugares de interesse. Nem de propósito, no campo do alojamento também houve vários motivos para sorrir em 2015: para além do estudo que colocou os hotéis de Lisboa e Porto no top 20 europeu, um ranking feito pelo site de reservas Hotel Info distinguiu Lisboa — escapadinha preferida para os irlandeses — como a segunda melhor cidade no que toca aos hotéis com melhor relação qualidade-preço.

Com receitas turísticas a ultrapassarem os sete mil milhões de euros só até agosto, em 2015 Portugal afirmou-se como a nova coqueluche da Europa e o próximo ano parece ir pelo mesmo caminho depois de a Trivago ter anunciado, no final de setembro, que Lisboa é um dos melhores destinos turísticos de 2016. Não lhe chamem futurologia: o reconhecimento foi feito através de um algoritmo que mede a reputação da oferta hoteleira, os preços médios e as atrações turísticas.