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O plano era dormir até tarde. Sábado, 31 de dezembro, último dia do ano. O João Francisco Gomes queria aproveitar umas horas extra de sono para chegar fresco aos festejos da meia noite. O plano, porém, durou pouco. Às 9h47, quando tocou o telefone do jornalista que acompanha os temas religiosos no Observador, não era difícil imaginar a notícia que o Miguel Pinheiro, diretor executivo, tinha para lhe dar. |
Há semanas que iam chegando ecos da fragilidade do estado de saúde do Papa Bento XVI e, depois de o Papa Francisco ter falado num agravamento do quadro clínico, as redações prepararam-se. O João tinha passado os últimos dias a atualizar ou a concluir alguns trabalhos sobre Joseph Ratzinger (como este ou este). Naquela manhã, sentou-se de novo ao computador para ajudar na cobertura noticiosa mais imediata, sem tempo sequer para tirar o pijama. |
Em paralelo, tudo estava a ser preparado para que pudesse viajar rapidamente para Roma, apesar de um pequeno contratempo analógico: para fazer a acreditação na Sala de Imprensa da Santa Sé é preciso, entre muitas outras coisas, enviar uma carta assinada pelo diretor do órgão de comunicação a confirmar a identidade, as funções do jornalista e o compromisso com o respeito por uma série de regras associadas a entrar no Vaticano. Escrever essa carta é fácil, o problema é que, a poucas horas da Passagem de Ano, o Miguel Pinheiro já estava longe de uma impressora para poder tratar da assinatura. No final, tudo se resolveu. |
Em circunstâncias normais, já é avisado chegar ao Vaticano com uma ideia do que se vai fazer, para evitar o risco comum de se ficar perdido e sem acesso a ninguém. Nesta semana, tudo foi ainda mais complexo. O João sabia uma coisa: para levar os leitores do jornal e os ouvintes da rádio para dentro daquele momento, tinha de entrar na Basílica de São Pedro, com os milhares que quiserem ver o corpo do Papa emérito pela última vez. Depois, era preciso olhar também para outros ângulos, outras histórias que nos ajudassem a compreender diferentes aspetos deste momento histórico. |
Numa semana anormalmente caótica no Vaticano, com medidas de segurança absolutamente excecionais (a Praça de São Pedro foi declarada “zona vermelha” de alerta de segurança), com quase todos envolvidos diretamente nas homenagens — e, por isso, com pouca disponibilidade para as centenas de jornalistas no local —, havia uma dificuldade evidente: com quem falar? Quem nos abre a porta numa semana tão atípica como esta? |
Ainda antes de apanhar o avião para Roma, o João lembrou-se de duas pessoas: o bispo D. Carlos Azevedo, que trabalha na Santa Sé há mais de uma década e que em 2010 organizou a viagem de Bento XVI a Portugal; e Jorge Oliveira, um diácono português que está em Roma a fazer o doutoramento em Teologia Moral e que esteve Mosteiro Mater Ecclesiae, onde Bento XVI viveu os últimos 10 anos da sua vida, a participar no velório mais íntimo do Papa emérito antes da trasladação do corpo para a Basílica. As duas visões permitiram-lhe escrever sobre o lugar dos pensadores na Igreja e sobre estes dias históricos que puseram fim à era dos dois Papas (o que, aliás, deu origem a uma História do Dia). |
No dia do funeral, a ação foi mais limitada, claro: o João assistiu à celebração no topo da colunata da Praça de São Pedro, com centenas de jornalistas de todo o mundo, enquanto fazia diretos para a nossa rádio. |
A crise política que não acabou |
Por cá, as equipas de Política e de Economia também têm vivido tempos extraordinários. Depois da semana em que o Governo perdeu um ministro e uma secretária de Estado, o que acabou por levar a uma mini-remodelação, a nova secretária de Estado da Agricultura durou pouco mais de 24 horas no cargo, o que quase levava a que a Rita Tavares e a Mariana Lima Cunha ficassem presas na Assembleia da República a noite toda — literalmente. Na quinta-feira, as duas jornalistas estiveram a acompanhar o debate no Parlamento durante a tarde — aquele em que António Costa garantiu que não havia razão nenhuma para demitir Carla Alves — e, quando tudo acabou, estavam nos sofás do corredor junto ao hemiciclo a escrever a “crónica de uma demissão antecipada por Marcelo durante a moção de censura”. Por volta das 23h, a Mariana teve de ir à rua entregar um carregador de computador a um colega fotojornalista que se tinha esquecido de o pedir de volta e, quando apareceu junto à porta da saída, a funcionária, já pronta para fechar tudo e ir para casa, talvez tenha pensado que estava a ver um fantasma: “Vocês estão cá dentro?!”. |
A Mariana ainda voltou para o posto de trabalho improvisado e acabou de escrever o texto com a Rita, antes de ambas serem convidadas a sair por um segurança — por outra porta, porque a habitual já estava mesmo fechada. Ainda bem que saíram, claro, mas temos de admitir que era capaz de dar uma história ainda melhor para esta newsletter. |
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